quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Fascinação, a obsessão prazerosa

FASCINAÇÃO,  A OBSESSÃO PRAZEROSA
Ruth Barbosa – ruthbar@uol.com.br

Fascinar é, segundo o dicionário, “o ato de dominar por encantamento, atrair irresistivelmente.  A ação de atrair, cativar, de provocar encantamento, enlevo, feitiço, ilusão ou deslumbramento leva o nome de fascinação”.
Kardec no livro dos Mediuns, coloca a fascinação como produto de “espírito ardiloso e profundamente hipócrita porquanto não pode operar a mudança e fazer-se acolhido senão por meio da máscara que toma e de um falso aspecto de virtude”. E acrescenta que: “ os grandes termos – caridade, humildade, amor de Deus – lhe servem como que de carta de crédito, porém, através de tudo isso, deixa passar sinas de inferioridade que só o fascinado é incapaz de perceber. Por isso mesmo, o que o fascinador mais teme são as pessoas que vêem claro. Daí o consistir a sua tática, quase sempre, em inspirar ao seu interprete o afastamento de quem quer que lhe possa abrir os olhos. Por esse meio, evitando toda contradição, fica certo de ter razão sempre”.
(Livro dos Mediuns, cap XXII,  item 239)
“O efeito do processo de fascinação vai dar na subjugação que paralisa a vontade daquele que a sofre e o faz agir a seu mau grado. Numa palavra: o paciente fica sob um verdadeiro jugo”. (item 240)
São sempre confusos os conceitos de fascinação e paixão. Por isso falamos que estamos fascinados por alguém quando queremos dizer que estamos apaixonados. Kardec examinou a questão da paixão e no Livro dos Espíritos encontramos:
            907. O princípio das paixões sendo natural é mau em si mesmo?
            ¾  Não. A paixão está no excesso provocado pela vontade, pois o princípio foi dado ao homem para o bem e as paixões podem conduzi-lo a grandes coisas. O abuso a que ele se entrega é que causa o mal.
            908. Como definir o limite em que as paixões deixam de ser boas ou más?
¾  As paixões são como um cavalo, que é útil quando governado e perigoso quando governa. Reconhecei, pois, que uma paixão se torna perniciosa no momento em que a deixais de governar, e quando resulta num prejuízo qualquer para vós ou para outro.
Assim a fascinação pode ser facilmente confundida com a paixão. Seja por alguém, por uma obra de arte, por uma instituição, por um objeto,  por um modo de vida e muitas outras coisas. O processo obsessivo da fascinação não usa de violência, é sutil, usa entre outros instrumentos que nós mesmos colocamos a sua disposição,  a vaidade, o orgulho e nossos vícios mentais travestidos de virtudes. E provoca em nós o doce sentimento de ilusão!
Como gostamos de viver na ilusão! Como gostamos de ter razão! Como é gostosa a sensação de que somos reconhecidos, de que sabemos algo que não está, segundo a nossa vaidade, ao alcance de todos. Campo propício para a instalação de um processo de encantamento que fecha os nossos olhos para nossa realidade interna e, consequentemente, mascara a realidade externa. Coloca-nos na verdade do outro.
Ora, o que é a Verdade?
Para os gregos a verdade (aletheia) é o que se manifesta aos olhos do corpo e do espírito do homem. É uma correspondência das coisas do mundo ao modo de pensar. Pode ser pensada como uma adequação do nosso intelecto as coisas ou das coisas ao nosso intelecto.
Na fascinação a pessoa passa a ver o mundo com a correspondência ao modo de pensar do fascinador, ou seja, com os sentimentos e emoções alheias. Kardec observou que o fascinado aceita as teorias mais falsas como se fossem a expressão da verdade e tal situação pode levá-lo a situações ridículas, comprometedoras e até perigosas.
Interessante perceber que a palavra fascinação é usada como algo benéfico como, por exemplo, quando  nos orgulhamos de estarmos fascinados por uma pessoa, por um grupo e até por uma música. E o senso crítico que devemos ter em todos os momentos? Ah, mas não podemos criticar ninguém, apressam a falar os apressadinhos... Por isso devemos ter claros os conceitos, as palavras e as coisas do mundo. Do nosso mundo interno.
E o que é crítica? Vamos novamente ao dicionário que nos informa:  “v.t. Examinar, analisar uma obra para salientar-lhe as qualidades e/ou defeitos. / Ressaltar os defeitos das pessoas e das coisas; censurar.  Mas, assim como podemos salientar as qualidades de uma obra podemos examinar e  salientar as qualidades ou defeitos de alguém ou termos os nossos comportamentos criticados sem que, com isto, incorramos na censura”.
E o que é censura? Ainda segundo o dicionário, “censura é condenação”. E não podemos condenar porque não somos habilitados para tal. 
No livro Jesus no Lar, na Mensagem O Juiz Reformado, Jesus adverte que “Somente aquele que aprendeu intensamente com a vida, estudando e servindo, suando e chorando para sustentar o bem, entre os espinhos da renúncia e as flores do amor, estará habilitado a exercer a justiça, em nome do Pai”.
Mas podemos e devemos utilizar do senso crítico para nos orientar quanto a comportamentos sutis que podem estar representando uma fascinação a caminho da subjugação.
Na Revista Espírita de outubro de 1858, Kardec escreve que “Os Espíritos grosseiros são menos perigosos: reconhecemo-los imediatamente e não inspiram mais que repugnância. Os mais temíveis, em seu mundo, como no nosso, são os Espíritos hipócritas: falam  expressões carinhosas e em protestos de dedicação. É preciso realmente ser forte para resistir a semelhantes seduções.” (grifo meu)
Mas Kardec no mesmo artigo, orienta o que devemos fazer  “(...) Tirai-lhes a máscara e se tornam o que eram: ridículos. É isto o que se deve saber fazer, tanto com os Espíritos quanto com os homens”.
O processo da fascinação está sendo amplamente usado nestes momentos em que estamos de mudança para o mundo de regeneração e precisamos de muita atenção para não nos perder porque “Fora erro acreditar que a este gênero de obsessão só estão sujeitas as pessoas simples, ignorantes e baldas de senso. Dela não se acham isentos nem os homens de mais espíritos, os mais instruídos e os mais inteligentes sob outros aspectos, o que prova que tal aberração é efeito de uma causa estranha, cuja influência eles sofrem”. (Livro dos Médiuns, cap. XXIII, item 239)   
E só podemos ser fortes se tivermos senso crítico e observarmos tudo com prudência embora possamos, mesmo assim, nos transformarmos em joguetes destas mentes por causa de nosso desconhecimento das forças do passado que nos regem. Mais uma vez o Mestre nos dá o mapa do caminho: “Vigia e Ora”. (Mt. 26:41)
 E nós que nos propomos a colaborar para a implantação do mundo de regeneração, devemos ampliar nossa visão através do estudo e da observação de nós mesmos e buscar auxilio para determos processos que se implantam silenciosamente, acordando o passado e dando-lhe o status de presente, com seus projetos que não foram concluídos e oportunidades que foram perdidas, com vícios ainda ativos e sistemas de pensamentos completamente dissociados.
Copy desk by Aelius


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